A região terá uma mulher como representante nos Jogos Paraolímpicos de Pequim, em setembro deste ano e o caso é um tanto inusitado. A nadadora Regiane Nunes Silva treina em São Caetano e mora em Ribeirão Pires, mas não é na natação que vestirá as cores do Brasil. Apesar de ter índice para nadar os 50m e 100m livre, ela não foi selecionada pelo Comitê Paraolímpico Brasileiro e seus avaliadores, mas competirá em uma modalidade que iniciou no ano passado: o remo.
“Estou super empolgada e motivada. Comecei no remo no ano passado após receber uma proposta da Eliane (técnica e coordenadora de remo), que disse que eu tinha um biotipo e um desempenho que é bom para o esporte. Passei por uma seletiva, entrei na equipe e fui recebida de braços abertos. Nesse ano levei mais a sério e conquistei essa vaga”, conta Regiane, de 23 anos.
Os treinamentos de remo são na raia olímpica da USP (além das atividades de academia que ela faz na academia Top Spin, em São Bernardo) e nesta semana a atleta trabalhou todos os dias sob avaliação. Segundo Regiane, o esporte será disputado pela primeira vez nas Paraolimpíadas neste ano e o Brasil é favorito para a medalha de ouro. “Somos os atuais campeões mundiais e somos o país a ser batido. Por isso, estou muito confiante, mas com os pés no chão, porque sei que todos os adversários virão para cima de nós”, explica.
Mesmo classificada para o remo, a nadadora não deixa as piscinas de lado e continua seus treinamentos. “Um esporte ajuda o outro e ambos estão me favorecendo”, diz Regiane, que dedica todo seu tempo exclusivamente para os treinamentos. “Eu sai do meu emprego para investir somente nas Paraolimpíadas. Não terei férias no meio do ano e agora só depois dos Jogos, em dezembro”, comenta.
Justamente por manter o treinamento nas piscinas, somado ao condicionamento físico adquirido no remo, no último final de semana, em Uberlândia, Minas Gerais, a atleta quebrou o recorde brasileiro nos 200m medley e, mesmo assim, o resultado não a credenciou para Pequim no nado. No currículo Regiane também carrega algumas competições como nadadora e, inclusive, conquistas importantes. “Fui no ano passado para o Mundial de Cegos e para o Parapanamericano no Rio. No Mundial fui bronze nos 800m livre, no Parapan ganhei prata nos 400m livre e bronze nos 100m costas.”
Entretanto, se houve uma marca que valeu a pena para Regiane foi ser campeã mundial de Remo na Alemanha, junto com seus três companheiros de barco. “Competimos na categoria LTA 4+ (mista, para atletas que utilizam pernas, tronco e braços), em que quatro pessoas ocupam um barco. Duas delas são deficientes físicas e duas delas deficientes visuais”, explica. “Os quatro barcos brasileiros estão classificados para Pequim (o Quatro com Misto, o Double Skiff Misto e o Single Skiff Feminino e o Single Skiff Masculino), para ter uma maior noção da qualidade do Brasil.”
Regiane é atleta da categoria B2 (parcialmente cega) e explica qual o motivo disso. “Minha deficiência é congênita. Eu nasci com glaucoma, sem enxergar nada. Fiz uma cirurgia com 27 dias de nascida, voltei a enxergar, mas minha doença é degenerativa. Quando comecei a nadar eu era B3, enxergava tão bem que quase não era considerada deficiente. Atualmente sou B2 e como é degenerativo é capaz de que um dia eu seja B1 (totalmente cega)”, conta.
Em função da cegueira a nadadora e remadora encontra alguns problemas na desenvoltura dentro da piscina. “Tenho mais dificuldade porque na infância meu desenvolvimento motor foi mais lento por conta da visão, então hoje minha agilidade é um pouco retardada, mas nada que um pouco de treino não resolva”
Família - Regiane tem outro atleta em sua família: seu irmão, Renato Nunes Silva, que também buscava vaga Paraolímpica em Pequim na natação, mas ficou de fora da convocatória. “Infelizmente ele não foi convocado. Agora viverei uma experiência diferente, porque no Parapan ele estava lá comigo, também competindo. Agora não”, conclui.
13/06/2008 18:44
DÉREK BITTENCOURT
GABRIELLE MONI
O Rudge Ramos Online é uma publicação do curso de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo
Mais uma vez foi provado que "aqui se faz, aqui se paga", depois de seis meses...Demorou, mas tudo o que eu havia dito aconteceu...
